quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SHIT HAPPENS - a última viagem de Heitor como "colo" no avião

Eu estava enrolando, muito, para escrever esse post. Como já disse, somos uma família que mora longe, e utiliza em demasia o avião para visitar família e amigos. Desde que nasceu até a presente data, Heitor já viajou vinte vezes de avião, sendo que dezenove delas com conexão. O tempo dos voos variou entre cinco e dez horas, e achava que já tínhamos passado por todo tipo de intercorrência possível com bebês em aeronaves. Achava. Para descrever a última viagem de Heitor como colo, da qual nem ia falar, achando que nada mais poderia acontecer, vou emprestar essa intrigante expressão Murphyriana Norte-Americana, que me consolou durante toda a viagem: Shit happens (literalmente, merda acontece).

Antes de viajar com Heitor sozinha mais uma vez, segui fielmente meus próprios passos para evitar desastres, que reportei no post de setembro. Liguei com UM MÊS de antecedência e reservei para mim as poltronas 1F de ambas as aeronaves no voo mais curto até Salvador, com todo o trajeto até Brasília feito durante a madrugada, já que chegando em Brasília, já pela manhã, o Heitor tomaria café, trocaria as fraldas, e enfrentaria um voo rápido (diante do restante) de 01:40 h, de Brasília até Salvador, acordado e vendo seu DVD do "Peixauta". Tudo em casa.

Então, com tanta cautela, nada poderia sair errado, CERTO? ERRADO. Mas porquê? Simples:



Pois é. Na semana anterior ao voo, eis que eu caio doente, de cama mesmo, com um troço horrendo na garganta que me dava febre. Tomei paracetamol e fui em um médico, que, a uma distância de 1 metro e sem palitinho "descedor de línguas", descobriu que não tinha nada na minha garganta. A febre já estava mais baixa, então ele me receitou  um antinflamatório, vitaminas e repouso moderado (sic). A garganta incomodando, a febre volta depois de algumas horas. Não aguentava nem andar direito com dores no corpo, e lá vamos nós atrás de outra médica, que deu uma santa receita de antibiótico para ser tomada caso a febre persistisse. No quarto episódio de febre, comecei a tomar, e já estava tão mal que tomei, apesar dos protestos do meu pai, um feliz Tandrilax, que me fazia virar humana por algumas horas. E só.
Acreditem, paguei o mico de filmar minha garganta com o IPhone e uma lanterna, para que meu pai visse a minha garganta: atrás das amídalas, estava um enorme abscesso purulento nojento e dolorido, não visível a um metro sem "descedor de línguas" ou IPhones com lanterninhas!
Faltando dois dias para a viagem, ainda em cacos, enquanto fazia a mala da viagem... Adivinhem!

"Odor que não passa...!"

A Gol liga para meu marido (telefone fixo de casa quebrado e celulares sem sinal...) avisando que meu voo seria cancelado, e que já tinham me encaixado em um voo que sairia de Boa Vista às 04 da manhã e chegaria em Salvador às 14:30! Eu enlouqueci, pedi ao meu marido que explicasse a eles que um voo de 10 horas durante o dia, sozinha com uma criança de 2 anos no colo que não cabia mais no colo, com um abscesso na garganta e febre, era inviável! Fui então encaixada no voo da madrugada anterior. A dor foi melhorando, a febre arriou de véspera e eu consegui fazer as malas aos tropeços. Tudo bem. REALLY? #NOT. Como todos sabemos, o universo não conspirava a meu favor...

"Raining shit"

O voo atrasou por... 2 horas!! Saímos de Boa Vista quase no horário do voo seguinte da madrugada... Foram duas horas com uma criança sonolenta, com uma sala de embarque superlotada, cheio de crianças igualmente sonolentas! E mais: como o voo foi alterado, a famigerada poltrona também foi! O tal voo de véspera estava realmente muito cheio, então o "xentiboa" do atendente me colocou (depois de me cobrar 5 kgs de excesso de bagagem...) na POLTRONA DO MEIO, com Heitor desesperadamente tentando se acomodar! Expliquei a situação para a comissária, ela me disse não poder fazer nada, expliquei que o Heitor tinha 23 meses e 10 dias, mas não recebi nem olhares solidários das pessoas em torno; dispensei então a minha reboladinha de conversar com os "colegas" das outras poltronas, simplesmente porque, convenhamos: se você vê uma mulher sozinha, doente, tentando desesperadamente fazer dormir uma criança na poltrona do meio, e não oferece ajuda, você é certamente um estúpido. Normalmente sou a favor das pessoas que não tiveram filhos e não são obrigados a cheirar fralda suja, mas falemos a sério: isso não justifica ignorar a desesperada situação alheia sem exceções... Então, eu mesma "esqueci" da minha reboladinha nº. 2 (vide post de setembro) e coloquei meu almofadão, deixei os pezinhos de Heitor balançarem à vontade, suas mãozinhas cutucarem revistas... Bom, pedia sempre desculpas e explicava: "Poltrona do meio... 1 ano e 11 meses... Quatro da manhã..." e fazia a minha melhor cara de resignada. Não foi bom para ninguém. Estúpidos e mães com zica.
Em Manaus descobrimos que já tínhamos perdido a conexão. Pesquisei no app da Infraero e vi um voo chegando em Salvador às 13:30h, e rezei muito para conseguir alcançá-lo. Rezei, do fundo da minha situação desesperada, confiando que merdas acontecem, mas quando menos esperamos, tudo pode dar certo.
"Nunca duvide da fé, mamãe!"
Eis que a pessoa que senta do meu lado em Manaus é um gentil rapaz que fez espontaneamente a pergunta: "você vai viajar com seu filho dormindo no colo até Brasília aí no meio?" Eu, já sem esperanças, respondi: "sim, mas ele não vai incomodar você não". "Mas você não prefere trocar de lugar comigo e usar a janela?" Juro, meu queixo caiu. Quando eu digo RAPAZ, eu não estou sendo boazinha, era um guri novo, de IPod em punho, ouvindo pagode! Ele, de quem eu nunca esperaria compreensão sobre a minha desesperada situação, foi solidário sem que eu pedisse. Há esperança no mundo, basta criar bem os nossos filhos! Valeu, mãe do rapaz!
Na janela o Heitor dormiu apoiado na janela e acomodou melhor na poltrona. Eu também pude dormir umas horas. Em Brasília, alcançamos o vôo de 13:30, e ainda tivemos tempo para comer algo e verificar as fraldas. O Heitor comportou-se bem usando a mochilinha-coleira enquanto a mamãe arrastava almofada e bolsa pelo aeroporto. Trocamos de portão de embarque três vezes, mas passeamos de um para outro sem nos incomodar. Heitor sujou espalhafatosamente a fralda a 10 min do embarque, mas eu estava no céu. Fomos ao banheiro de deficientes, tentando não se afastar do portão (o fraldário fica no outro andar) e resolver o problema. Foram muito lenços umedecidos, uma desesperada lavada de bumbum na pia (da qual ele ria horrores), e um Woody jogado pelo buraquinho do vaso adaptado, banhado em álcool, lavado e reservado em um saco para ser afogado em água sanitária. Incrível, mesmo com tudo isso, eu ainda ria. A lua entrou na sétima casa e Júpiter se alinhou com Marte. Seja porque pior do que já tinha ficado não podia mais ficar, seja porque perto do stress da madrugada, limpar um Woody mergulhado no vaso sanitário é fichinha!

"Let the Sunshine in!"

Com a perda da conexão e reencaixe no voo novo, lembrei de pedir uma poltrona mais confortável. Fiquei na janela com Heitor, mas notei ao embarcar que várias pessoas estavam perdidas em poltronas separadas, provavelmente por conta do nosso reencaixe. Uma mãe estava sentada longe da filha e do marido. Como a menina dela estava doidinha para assistir o DVD com Heitor (que a essa altura estava ligadíssimo), sugeri que ela trocasse e ficasse do meu lado, enquanto o marido dela ficaria no corredor ao lado. Assim ela trocaria meio com meio, corredor com corredor, e as pessoas não se oporiam. Deu certo, e viajamos todos felizes. Os dois meninos se encaixaram na poltrona do meio, com o DVD ligado na mesa de refeição, e finalmente pude respirar por 01:40 h. Cheguei e viajei sonhando (dormindo, mesmo!) mais duas horas de carro para a casa de meus pais.

Qual o motivo desse post meio nojentinho? Depois de tantos posts que fiz aqui falando de viagem de avião, e diante de tantos transtornos imprevistos em uma viagem da qual nem pensava em falar, certa de que seria a mais tranquila de todas, tirei uma lição para a vida: controle é bom, mas não tem garantia estendida.
Achei um texto na web, para administradores, que ilustra bem o que aconteceu comigo:

"Quando nos armamos de muitas defesas, criamos exatamente as condições para acontecer aquilo que mais tememos ou procuramos evitar. Isto é, o excesso de autoridade trabalha contra a autoridade pretendida. O controle sub-reptício foge ao controle. Se você precisa controlar muitas coisas, troque de verbo: substitua 'controlar' por 'cuidar' e verá que essa atitude fará uma grande diferença no seu dia-a-dia, em relação ao nível de estresse e aos resultados dos esforços. Pois, quando 'cuidamos de algo', trabalhamos com mais suavidade e carinho, e 'a coisa a ser controlada' sente a força sutil das nossas ações. Controlar, sem controlar, é a regra do jogo. É por isso que cuidamos do jardim e não o controlamos. Cuidamos dos animais e não temos controle pleno sobre eles. Na vida pessoal é melhor cuidar da saúde, do tempo e do dinheiro do que pretender controlá-los a ferro e fogo. O cuidado, quando feito com atenção e zelo, só traz alegria e satisfação, ao passo que o controle é sempre tenso e difícil. O próprio ato de cuidar traz consigo as atitudes de zelo, cautela, precaução e atenção. A responsabilidade é mais nossa do que do outro. Ao cuidar, somos mais senhores da situação do que quando almejamos o controle de tudo. A vida precisa de mais cuidados e menos controles. Ninguém gosta de ser controlado, mas todo mundo deseja ser cuidado. (...) Quanto mais tentamos controlar os outros e a nós próprios, mais ficamos presos nas armadilhas que o destino nos arma. Animais capturados em redes, quanto mais se debatem mais ficam embaralhados nas malhas". Eloi Zanetti (www.eloizanetti.com.br)

Acho que a vida é assim, e a maternidade, cheia de tentativas de prevenir percauços na nossa vida como mães e na vida de nossos filhos, funciona sob a mesma batuta. Não dá para exercer um controle pleno, firme, objetivo, todo o tempo. Cuidamos de nossa família, do nosso bem estar e de nossos filhos. Evitamos ao máximo os sofrimentos dos imprevistos, revertemos situações estressantes, mas precisamos estar com ouvidos atentos para a música que toca, a fim de ouvi-la e dançar no seu ritmo. Assim, mesmo quando o imprevisível chega, ao final poderemos sorrir e rir das nossas próprias algúrias! Shit happens, so what? ;)

"The sunshine in!"
Comentários
8 Comentários

8 comentários:

  1. Juro que olhei esse post tão grande e pensei: "Será que vou conseguir ler até o final?"
    Mas não consegui desgrudar o olho hehehe Eu sempre queria saber o desfecho :D
    Muito bom o texto, me diverti apesar de ter me colocado no lugar e ver q não deve ter sido nada fácil...
    Beijos!
    #amigacomenta

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  2. kkkkk,desculpe, eu ri,rsrsrsrsrs... o Murphy adora sacanear,rsrsrsrs...mas com criança acho q sempre podemos esperar surpresas né ñ...
    Que bom que encontrou pessoas legais no caminho,sempre tem um...
    Grande bj!!!!
    #amigacomenta

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  3. Que aventura!

    Mas que bom que (na medida do possível) deu tudo certo, e lembre-se que tudo podia piorar…(não sei como, mas nunca duvide da lei de Murphy!)

    Bjos

    Elaina Furlan #amigacomenta
    http://www.vidademae.net/

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  4. Ai caramba!! Q bom q no fim tudo deu certo!
    As vezes eu tb tenho q viajar COM DOIS sozinha e sei q não é moleza!!! :P

    Bjooo!

    Loreta#amigacomenta:)
    @bagagemdemae
    www.bagagemdemae.com.br

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  5. É isso aí. O grande trunfo do ser humano é a sua capacidade de adaptação!
    Só duas correções, gatinha: a Gol entrou em contato comigo por *e-mail*, e o voo sugerido chegava em Salvador às seis da tarde!!!
    Bjs!

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  6. Olha, cada coisa que acontece. Viajar sozinha com crianças já não é muito fácil por natureza (eu geralmente viajo com duas e aquele tanto de malas), as empresas aéreas ainda precisam tumultuar, né? Que bom que você é guerreira e tem flexibilidade.

    Quanto às pessoas, a gente encontra tanta gente xucra que qdo encontra um educado até se supreende. Em Congonhas eu me supreendo pq o povo nem olha pra sua cara. Em todos os outros aeroportos sempre se oferecem pra me ajudar com as malas, menos lá. Não que eu não consiga me virar sozinha, mas é bom demais receber uma gentileza!

    Beijos
    Tati
    Mulher e Mãe
    #amigacomenta

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  7. Afff!!! Tadinha de ti amiga!
    Mas olha posso falar antes de fazer a primeira viagem com meu filhote, vim aqui olhar TODOS os post que vc faz sobre viagem, pra evitar qlqr problema!
    #amigacomenta

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  8. Viva ao vôo direto NAT-SSA-NAT!!!
    Vou sozinha com Tuca depois de amanhã e levarei minhas armas!!!
    Rsrsrs

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