quarta-feira, 2 de junho de 2010

Rotina de mãe

Dia desses trocando mensagens com minhas amigas, fiquei pensando sobre as mudanças que a maternidade faz na vida de uma pessoa... Estávamos alertando uma amiga e contando todas as dificuldades, e uma frase dela me chamou a atenção, algo como: "nossa, e com tudo isso vocês ainda adoram ser mães..."
É um paradoxo, mesmo! Mas como? Pequenos seres chegam, dão um trabalhão, mudam as suas rotinas, criam a vocês infindáveis tarefas e vocês ainda adoram... Porquê?
Quando digo rotina, não falo de algo maçante, enfadonho... Falo daqueles atos, rituais, manias que temos e a que nos apegamos... Nossas vontades e planos, o esqueleto dos nossos dias e noites.
Essa idéia ficou na minha cabeça, até outra das minhas amigas comentar sobre uma antiga característica da minha rotina pessoal: sou da noite por opção e necessidade. Sempre trabalhei, estudei, e "fiz-porra-niúma" (em bom baianês) madrugadas adentro. Nenhum trabalho feito por mim durante o dia chegou perto daqueles feitos à noite... Vocês acham que me incomodava amamentar de madrugada?? De modo algum! Me incomodou IMENSAMENTE amamentar DE MANHÃ, horário em que meu relógio biológico, preferencialmente, gosta de dormir...
O primeiro mês foi SOFRIDO DEMAIS... Até às 03:00 eu estava serelepe. Acordando depois dessa hora, dormia por cima do bebê, chorava de sono até as 10:30, 11 horas da manhã! As mamadas da manhã eram mal-humoradas, irritadas - meu inconsciente me induzia até a fingir que não ouvia o bebê chorar (meu sono é ABSURDAMENTE egoísta e malvado)! Enfim, uma loucura. Um sofrimento só.
Pensava: meu Deus, NUNCA MAIS VOU VARAR FELIZ A MINHA MADRUGADA! Quando acabarem as mamadas, serão os gritinhos, as brincadeiras... Algo sempre me acordará cedo...!
Enfim, passei seis meses expulsando de minha mente qualquer pensamento fatalista. Minha regra dos seis meses - o tamanho da minha licença-maternidade - foi: deixo Heitor me levar pela mão, e vou com o coração aberto.
Hoje posso dizer: não durmo mais pela manhã... Talvez um pouquinho, quando, como hoje, entro a madrugada fazendo algo. Mas já tem um tempinho que não tenho o prazer de pular o café e acordar para o almoço...
Conclusão: não faz mais diferença. Estou aprendendo a achar outros horários especiais para mim. As manhãs com ele têm sido absurdamente agradáveis. É incrível como o ser humano é adaptável, rotina é algo sutil e disfarçadamente moldável... Não vivemos sem o carro? Tente ficar sem ele por um mês... Depois de três semanas, estamos, no mínimo acostumados à nova rotina. Não consegue ficar sem um doce? Tente, sobreviva, e depois veja como é possível...!
Foi o que aconteceu comigo quanto à lactose. Quatro meses sem usá-la: nos dois primeiros meses parecia impossível. Viver sem iogurte? Queijos? Chocolate? Uma agonia só! Mas hoje, fica até difícil lembrar que já não preciso seguir essas limitações...
Filhos são assim, maravilhosos, mas invadem a nossa rotina e tiram tudo da ordem pré-estabelecida. É o amor por eles que não nos deixa ficar chateados demais com as mudanças, que são sim, bem doloridas, como toda mudança de rotina é. Contudo, só sentimos seus efeitos por pouco tempo. A medida em que o bebê vai interagindo e se integrando à dinâmica familiar, todos vão se reunindo em uma nova e interessante rotina... Uma rotina de lambanças, de magia e brincadeiras. Uma rotina de responsabilidades, mas uma rotina de muitas certezas. Rotina de vida com sentido. De plena consciência de sua fragilidade e muita força para suplantá-las. Uma rotina de maturidade, de alcançar as prateleiras mais altas da estante, aquelas onde ficaram guardadas as respostas às tantas perguntas que pairaram em nossas mentes por anos a fio...
Ser mãe é encontrar as certezas que antes achávamos que eram inalcançáveis. Criar um ser é revelador sobre a sua própria existência. Começamos, aliás, exatamente, abrindo os olhos para a banalidade da nossa tão idolatrada rotina, cheia dessas manias deliciosas a que somos tão apegados, sem nos darmos conta como são banais e acessórias!
Agora, quando sinto saudades das minhas madrugadas de insônia, dou umas mordidas matinais nessas maçãs vermelhinhas:

"... que madrugada, mesmo??"
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