sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Descobrindo a mãe do Heitor...

O que fazer com um blog para a gestação depois que ela acaba?
Acolhendo à sugestão de uma amiga, vou continuar descobrindo Heitor... Não mais um bebê crescendo em mim, mas um ser autônomo, que, simultaneamente a mim, descobre a "mãe do Heitor"...
A maternidade é INTRIGANTE!! Entrei na sala de cirurgia tremendo de frio e de medo, com cesárea marcada por pura covardia de sentir dor... Todos ali me perguntavam tudo ao mesmo tempo, e todas as perguntas sempre me pareciam estranhas demais: "-Vc é casada de verdade?" E eu só imaginando COMO ISSO FARIA DIFERENÇA NA MINHA CIRURGIA! (só esclarecendo, essa informação deve constar na Declaração de Nascido Vivo...)
A cirurgia começa e eu puxando por segundo o braço do anestesista (-Eu tou sentindo que estão cortando... Estão cortando, não é? Era pra sentir isso mesmo?) até que ele me disse, com toooda paciência: "VC VAI SENTIR TUDO, MENOS DOR"! Aaaaaaah, eu não quero sentir tudo, meu Deus, eles vão tirar o Heitor da minha barriga e eu vou sentir isso acontecendo???
Nooossa, que sensação BIZARRA! Quando senti que o tiravam, só consegui dizer: "-Não tira, deixa ele aí!" (era só pra pensar, mas acabei falando em voz alta...).
Olha, não sei descrever o que significa ficar com a barriga, antes ocupada, oca... Me senti vazia! Olhei muito para a barriga murcha, sempre com uma tristeza imensa: por 39 semanas ELA foi meu filho, meu bebê, minha companhia... E agora, tiravam ela de mim...
Daí ouço a Dra. Lu: "Heitor é lindo, é enorme!" - E desando a CHORAR! Ih, não sei explicar até hoje o porquê do pranto. Não era emoção, era um TRANSBORDAR. Minha vida dava PAUSE e a dele, um FW: uma vida começa, a vida do guri que acordou tantas e tantas vezes comigo, espriguiçando na minha barriga (e com a bunda arrebitada sob meu umbigo), que "corria" para meu estômago e costelas quando eu colocava gelo na base da barriga, e que um dia ficou a noite inteira quietinho depois que chorei de desespero e sono... Minha companhia compulsória por 9 meses e meio, que esteve tão grudadinho em mim todo o tempo, agora fora de mim. Doeu na alma, e chorei de saudades antecipadas...
Pedi enlouquecida para vê-lo: "coloca ele aqui no meu lado". AH, ACREDITEM: ele me fez uma cara de mágoa profunda nesse momento, que instintivamente respondi ao vê-lo pela primeira vez: "Filho, a culpa não foi minha, eu disse pra deixarem você lá dentro!" Quando contamos isso, virei motivo de piada, mas olhem bem qual foi a tal "primeira careta" (eu fotografei ela depois):


FICARAM COM MEDO? Eu também!
Pois então, desde lá temos vivido, eu e Heitor, uma série de sentimentos estranhamente instintivos... A sensação de vazio foi embora, exatamente no dia em que fui até a UTI Neo e, ao vê-lo com desconforto respiratório, pus a mão sobre seu peito, respirando com ele, e a respiração dele normalizou por instantes, entrando no ritmo da minha... Somos ainda uma dupla, e juntos vamos descobrindo como viver felizes, como crescer e ser hoje mais do que fomos ontem. E, afinal, nos descobrimos um descobridor do outro, exploradores da intrigante e mágica condição de MÃE e FILHO!
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Lindo post.
    Eu não imaginava que ele tivesse feio cara de mágoa profunda, mas ele fez. E me deu medo!

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  2. Nem me fale, essa cara sempre precede o uéééé de fome, e só de vê-la hoje eu já vou pondo os peitos pra fora... kkkk

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