quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Viajar sem bebê.

Bordejando por Brasília, à noite.

Nada mais natural que contar como foi viajar SEM ele, logo depois de contar como costuma ser viajar com ele...
Assim que soube que teria que passar 3 dias e meio fora, a trabalho, para um encontro em Brasília, senti um misto de excitação com excitação! Já tinha um tempo que queria testar o Heitor por uns dias longe de mim, mas me faltava coragem. Sem escolha, ficou melhor ainda.
Como Heitor faz duas refeições completas, além dois lanches e três mamadeiras, amamentar não seria mais um problema. Levei a bomba, para evitar mastite (chega a ser engraçado falar de mastite agora, mas enfim, prevenir não faz mal!), ensinei o papai a colocar bebê para dormir, a preparar a vitamina da noite, e gravei umas musiquinhas cantadas por mamãe no celular dele... Unicamente porque ele se recusa a cantar para Heitor! Sabe-se lá porquê.... Enfim, fui preparar a minha mala, toda feliz, não sem antes buscar umas roupinhas para o evento, fazer as unhas, o cabelo, essas coisas que eu sempre deixo para depois, no afã de atender às necessidades de Heitor....
No dia da viagem, eu admito que surtei um pouco. Um misto de pavor com a excitação do início.
Abrindo um parênteses, na verdade ainda sinto um restinho de culpa pelo Heitor ter ido à UTI com Taquipnéia Transitória, porque meu inconsciente materno não me deixa não achar que isso aconteceu porque eu antecipei o parto. Daí, não me permito afetar em nada a rotina do Heitor para me deixar mais confortável... Essa culpa besta é a mesma que não me deixa parar de amamentar e ir cuidar corretamente do meu emagrecimento. Acho que o pavor veio daí, também.
Afinal, fui fazer as malas. Coloquei na mala "todas as roupas que gostava", em um espírito exagerado, muita maquiagem e bijoux, três pares de sapatos, ferro de viagem, secador e prancha, enfim, muito mais do que precisava para 3 dias fora. Exagerei, achando que ia precisar tirar algumas coisas para a mala fechar... Tchans, fechava e sobrava espaço! Me senti, depois de tantas malas abarrotadas que fiz esse ano, muito esquisita, com uma sensação constante que estava esquecendo algo. Não, não era o Heitor. Era a infinita e minuciosa bagagem que o acompanha!
Fechada a mala, fui para o procedimento usual de revisar mentalmente o que podia faltar... "Cozinha!" "Não, isso é para quando o Heitor vai". "Potinhos... não, do Heitor". "Esterili.... não!". Foi assim que descobri que fazer malas "normais" passa a ser algo ABSURDAMENTE SIMPLES depois que já passamos pelo desespero de preparar as bagagens de uma família com bebê lactente!
Deixar ele sair do meu colo foi difícil, mas assim que entrei na sala de embarque, desliguei. Simplesmente voltei a ser eu! Não sei explicar, a sensação que tenho agora é que fiquei absurdamente egoísta naquele momento. Mas não, não era egoísmo. A verdade é que não dá para ser mamãebebê, essa entidade fundida, para sempre. Em algum momento, precisamos "descolar" deles e ir aprendendo a ficar só juntinhos, ainda que separados. Simplesmente mamãe+bebê, independentes.
Eu não tinha IDÉIA do quanto precisava viajar sozinha. Foi ainda mais feliz por ser a trabalho, um trabalho que AMO fazer. Foi mais feliz por ser especialmente para resolver problemas antigos relacionados especificamente às minhas funções no Tribunal. Foi excitante como normalmente seria, em qualquer época, com ou sem um bebê em minha vida. Foi só Helena, como sempre foi. Foi a minha vida, voltando aos pouquinhos a ser como ela sempre foi...
Acho que um filho nos transforma. Eles nos dão outra dimensão da vida, nos dão novos óculos. Mas não matamos o que fomos, simplesmente pintamos nossos antigos quadros com cores mais vivas. Heitor, o filho de Helena, essa pessoa cujo nome atribuído subverte o mito grego (já que, ao invés de morrer por conta da chegada de Helena, nosso Heitor nasceu dela...), certamente saberá a importância de respeitar a sua própria essência, ainda que a vida o leve para mares com diferentes cores e temperaturas. Porque a sua mamãe, mesmo transformada, mesmo tendo mergulhado de cabeça na sua condição de mãe de Heitor, simplesmente não deixa de ser o que é.
Não sei como dizer sem me sentir monstruosa que não lembrei de bebê por muitas horas do primeiro dia. Pensei muito nele durante o vôo (que levou 8 horas!), mas muito mais pela sensação de ausência (já que passamos o ano passeando juntos de avião) do que por saudades. Na verdade, achei voar sem bebê até meio tedioso... São tantas emoções e coisas para pensar com ele que estar sem ele deixou a rotina aérea até meio vazia...
Só em dois momentos a viagem foi sofrida: quando o papai "torpedeou" a mamãe para dizer que o Heitor acordou chorando de madrugada com a fralda cheia e o bumbum assado, e que ele achava que foi por saudades (o Heitor tem assaduras recorrentes gigantescas, doloridas, mas nunca, nunca mesmo acorda de noite!), e quando assisti, sem querer, um vídeo na memória da câmera, em que ele brincava. Esses dois momentos foram como se "mini-facas" espetassem o coração... Algo como saber que o homem que você ama está com outra pessoa. Uma dor fina, mas aguuuuda...
Parênteses nº. 2: a dermatologista cuidou das assaduras, passando um sabonete de limpeza chamado CetaPhil, que agora usamos sempre que ele faz cocô (lavamos na pia, mesmo). Quando faz xixi, passamos algodão com água, e abolimos os lencinhos. Para proteger, usamos a pomada Cetrilan, muito boa também! Eu tenho pra mim que papai deu uma escorregada naquele dia nas trocas de fraldas. Ainda que a "acordada noturna" tenha sido por saudades de mamãe...
Com isso, mamãe passou o segundo dia do encontro muito feliz. Bebeu uma marguerita frozen feliz, fez compras feliz no shopping...
Ao me ver, o Heitor fez a cara de sempre. Cara de "Oi, mamãe". Eu o beijando feito louca e ele me empurrando. Ficou bem apegadinho durante o resto do dia, não a mim, mas aos meus (dele?) peitos... Não bombeei nada durante a viagem, e o leite parecia ter secado, mas ele mamou por 10 minutos em cada um e olha o jato lá, de volta!
Segundo a babá, Heitor nunca comeu tão bem e dormiu tão rápido como quando eu não estava! Ahá!
Quando acordou no dia seguinte, e fui buscá-lo no berço, e então ele me olhou com um sorriso de "mamãe, você ainda existe!", inconfundível, que me fez sentir uma saudade retroativa danada.

Ainda estou matando as saudades.... Quem é que sofre com a viagem da mamãe? Só a boba da mamãe, mesmo!
No primeiro dia do encontro, com a Gi. Mamãe feliz.
Comentários
5 Comentários

5 comentários:

  1. Oi Helena!
    Que bom que conseguiu aproveitar a viagem...
    Sabe, lendo o seu post, me ví um pouco... Às vezes, vou fazer alguma coisa sem o Lucca, e simplesmente desligo também... E depois quando volto e o vejo, fico me sentindo toda culpada!
    Mas foi o que vc disse, quem sente de verdade somos nós... rs!
    Beijinhosssssssss

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  2. É, Renata, é EXATAMENTE assim que me sinto! rs

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  3. Oi Helena,
    Que bom que administrou isso tudo muito bem. Você tem razão, temos que desligar o botão as vezes e ser só nós mesmas as vezes. E nada como uma viajem sem os filhos para nos fazer lembra disso.
    Beijossssssssssss

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  4. Saudade retroativa foi ótima...já senti isso.

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  5. ADOREI seu jeito de escrever, sério!

    Vou acompanhar!

    Beijos!

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