sábado, 23 de abril de 2011

Ler é preciso!

(Imagem retirada daqui)
Não lembro da exata sensação no momento em que descobri o livro. Lembro muito da vontade de ler, e do fascínio que me despertava permanecer presa a leitura de um livro por horas seguidas...


Lembro-me de como tive medo de “ser apunhalada pelas costas” depois de ler “Enigma na Televisão”, do Marcos Rey. Do tempo que perdi tentando desfazer a tese da “Pollyanna” de que o segredo da felicidade é olhar sempre o lado bom das coisas, e tentando compreender o sentido do vôo do “Fernão Capelo Gaivota”. Da dor que compartilhei lendo “Meninos sem Pátria”, do Luiz Puntel, e da fome que senti desde então de descobrir mais coisas sobre a ditadura militar no Brasil, que me levou a ler alguns livros do meu pai, de autores como Millôr Fernandes, Carlos Eduardo Novaes e até o livro do Gabeira, recorrendo a outros livros para entender as referências históricas... Lembro-me de amar preceitos budistas em livros de monges budistas, de tentar entender os meandros do amor e da dor em livros de filosofia, e até em alguns livros estranhos dessa categoria estranha de “auto-ajuda”...

O tempo passou e continuei lendo, lendo, lendo até entrelinhas... A internet chegou, os sites de busca chegaram e um “grande livro” se desfolhou diante de mim, assustador, com inúmeras possibilidades de comunicação e enorme repositório de informações. Propagou-se a morte do livro...

Esta semana comemoramos o Dia Nacional do Livro Infantil. Imediatamente lembrei de um artigo fantástico da Cristiane Rogério que li na Revista Crescer sobre o tempo certo de “apresentar” o livro ao bebê, no qual me chamou a atenção a foto de um bebê lindo “mordendo” um livro. Nesse artigo a editora dizia que é preciso dar o livro ao bebê para que ele o veja como um “objeto querido”. E mais: “dar um livro a um bebê, seja aquele na hora do banho, seja o cartonado que ele põe na boca, na cabeça, senta em cima, joga para o lado, não importa: ele vai se lembrar do livro. E vai dar o significado que nós adultos – a sua referência – damos ao livro”.

Essa matéria foi a deixa que eu queria. Comprei dois exemplares da Coleção “Toque e Descubra” para o Heitor e mais dois livros de banho. Sentava ele no meu colo e mostrava as gravuras, alisando-as e passando as folhas. Os livros passaram a ser o brinquedo favorito do Heitor.

Quando arrumei a brinquedoteca, tive a idéia de instalar duas prateleiras bem baixinhas, “alcançáveis” por ele, onde arrumei os livrinhos seguindo o mesmo padrão dos nossos na estante. Funcionou. Ele buscava seus livros, folheava e os punha no lugar. Funcionou bem demais: ele descobriu os nossos livros!

A melhor descoberta, aos 12 meses de Heitor, foi perceber que ele aprendeu a respeitar os livros. Ele folheia nossos livros com o mesmo cuidado com que folheia os seus. Manuseia, analisa, empilha, e (às vezes) devolve ao seu devido lugar.

Somos, papai e mamãe, seres plenamente adaptados ao Google. Lemos e pensamos hipertexto. Usamos a internet, revistas e livros com a mesma intensidade, Aprofundando, generalizando, resolvendo enigmas e respondendo pequenas perguntas. Mais do que a comunicação simples, rápida e funcional, buscamos controlar o tsunami informacional sobre nossas cabeças em energia cerebral. Evoluímos do livro, mas mantemos por ele o nosso respeito e amizade...

Hoje, exatamente hoje, o Heitor “tomou” de minhas mãos o livro infantil que eu lia para ele. Olhou-me com seu olhar enigmático e levou seu livro à cadeirinha que a vovó lhe comprou, sentando e “lendo” concentrado sua historinha, às vezes “recitando” o conto em voz baixa...

Ri sozinha. Ele vê os pais lerem “em seu canto”, porque seria diferente com ele? Sua relação com o objeto “livro que lhe pertence” não imita a relação que nós temos com os seus livros infantis, lendo-os em voz alta, mas a relação que nós temos com os nossos livros. Ele entendeu. Esses são os meus, aqueles os seus, vocês lêem os meus, então eu leio os seus. Mas quando cada um lê o seu, deve-se ir para seu canto em silêncio! Que tal? :D

Somos pais imperfeitos, todos nós. Mas algumas pequenas vitórias se sobrepõem a todas as pequenas falhas. Essa é uma vitória da qual, caso consiga fazer meu filho amar a leitura até a vida adulta, me orgulharei imensamente, para além de toda e qualquer falha que possa achar ter cometido. Através da leitura, o ser humano, imperfeito por natureza, inicia sua busca sem fim pela perfeição. Ouvi uma vez a Nélida Piñon dizer que o seu paraíso era “saber tudo”. O paraíso, o Nirvana, o lugar segreto para onde nós, leitores, iremos quando nossa vida tiver fim. Enquanto estivermos sobre a terra, papai, mamãe e Heitor tentarão ser seres humanos melhores através da leitura. Digital, “analógica”, ou por qualquer meio que a tecnologia nos permitir. Leremos até mentes, se possível. Saber viver é saber ler o mundo.

Heitor lendo sua historinha. Arquivo pessoal.

Menmenmen, úúhúúúúú...


Como eu já contei, Heitor é o fã nº. 1 da Série "Two and a Half Men" - só faltava mesmo o flagra dele cantando o jingle!!
Taí! kkkk

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Heitor risca e rabisca!


Heitor adora desenhar! Sei que a escolinha ajudou bastante nisso, mas nós também estimulamos ele a escrever e desenhar - coisa que sempre adorei fazer!
Minhas paredes e chão foram salvos quando encontrei o tapete AquaMagic da Estrela.
Foi um dos melhores presentes que Heitor ganhou. Essa caneta não é caneta de verdade: enchemos ela de água, apenas. Ela não tem tinta, apenas libera a água e como o tapete é sensível, a água "risca" na sua superfície - e só! Não risca tapetes, sofás, paredes... Maravilha!
Heitor até q tenta, fica sem entender pq a caneta só funciona no tapete...
A melhor parte (para mim, é claro) é que dá para levar na mala, em viagens, sem ocupar espaço! Mais um ponto para o tapete.
Como nada é perfeito, ele tem dois defeitos: segundo informa o produto, a canetinha não pode ser posta na boca. Precisa contar que foi a primeira coisa que ele fez? Na verdade, o brinquedo é indicado para crianças "acima de 3 anos", então o "defeito" não e do produto, é da criança, mesmo...


O segundo defeito também não é, assim, um defeeeeito:como o tapete é plástico, as vezes embola quando ele vai riscar. Como ele senta em cima, a coisa piora um pouco. Tentei colar ele com fita crepe no chão, mas ele se chateou, pediu para tirar, e ficou lá, se enroscando com o tapete - acho que para ele, o defeito é qualidade!

Antes de descobrir o tapete, compramos uma mesa de desenho, onde prendo uma folha de Papel Canson A2, com fita crepe, e dou um giz de cera pra ele "desenhar". Quando ele enjoa do papel, resmunga e eu troco. O problema é que as possibilidades que a canetinha nas mãos dão a ele reservaram a mesa à varanda...

Heitor desenhando no Canson, antes da mesa de desenho
"Se empolgando" no desenho...

Desenhando no tapetinho Aquamagic! Piso e Paredes salvas!

O outro "estúdio" de Heitor é o banheiro. Nele, ele usa as canetinhas laváveis "risca e sai". São próprias para riscar os azulejos do banheiro, e basta jogar o chuveirinho em cima da "obra de arte" para a tinta escorrer! O único problema é que quando ele começa a arte, não quer mais sair do banho, então, só usamos em "emergências", nas recusas sérias em entrar no banheiro... :D

Achei uns links de produtos similares, caso alguém deseje conhecê-los:

RISCA E SAI (é para "+ 3 anos" também, mas aqui já funciona)

BABY PAINT PEN

TAPETE AQUA MAGIC / TAPETE NA RI HAPPY

GIZ DE CERA SUPER SOFT 18 MESES (Heitor saiu da fase desses quando aprendeu a segurar o giz normal, pois desde então ele coloca tanta força nesses que faz muita sujeira, já que eles são muito sensíveis!!

PAPEL CANSON DE DESENHO (e nas melhores papelarias!)

sábado, 9 de abril de 2011

A mãe que posso ser: a mãe que quero ser - Blogagem Coletiva



Desde que li o tema da Blogagem Coletiva, uma pulguinha me morde o cérebro... “Sou a melhor mãe que posso ser? Sou a melhor mãe que posso ser?”. Não consegui escrever ontem por conta do meu aniversário, nem hoje, por ser sido um daqueles dias D (Dia Dengo, ou Dia de Não Largar a Mamãe). Por conta disso, a pergunta ecoou mais tempo. Hoje tive a resposta: NÃO.
Não? Não! Não, dentro dos “modernos” padrões, não no que se convencionou, atualmente, a chamar de mãe ideal.
Sei que todos que me conhecem, que viveram a minha maternidade de perto, estão me chamando de louca agora. Já explico.
Ser a melhor mãe que poderia ser parte do pressuposto que existe uma mãe ideal. Claro, porque a frase contém um “quase”, um prêmio de consolação... Um implícito: “Dei meu máximo, cheguei até os limites dos meus esforços”... Pronto. Mas quem é essa mãe ideal, aquela que não conseguimos ser?
A “mamãe perfeita” é a que agrada bisavós, vovós, papais, chefinhos e professores. Atende a todos os estereótipos femininos, e não se sente cansada! É isso? A mãe ideal convence o filho a comer brócolis só com sorrisos, previne germes e bactérias sem podar a criatividade de seus filhos... A mãe ideal, permitam-me, me enoja. Ela mora na casa ao lado da Fábrica do Papai Noel, Condomínio dos Ideais, vizinha do Príncipe Encantado e da Mulher Honesta, aquela a quem o Código Penal abdicou, porque estava muito difícil de achar...
Entendem aonde quero chegar? Estabelecemos socialmente noções de “ideal” e vivemos buscando o impossível. E nos frustramos, porque não os atingimos. E daí nos conformamos, porque demos o nosso melhor.
A verdade? Não sou a melhor mãe que podia ser, não me esforcei para atingir o “padrão” de manuais mesclados do que seria a “mãe ideal”, na verdade mal tentei. Um dia, olhei nos olhinhos do meu bebê e ele me disse (juro, ele disse, meu filho dialoga horrores comigo desde que nasceu, é um blábláblá louco): “mãezinha, sou seu filho, não quero ser filho de uma mãe diferente”.
Desse dia em diante, meu filho passou a ser filho de Helena, da de sempre, e não da Encantadora de Bebês. Da Helena fissurada em Google, que ri alto, que fala pelos cotovelos, que ama o Direito e o cheiro velho do processo (e ainda tenta se acostumar com os autos digitais), com a mãe que esbraveja quando indignada e que ainda traz, debaixo da pele, resquícios da Facom. Da mamãe doce com pimenta, demasiado humana... Não vou me esforçar para atingir um padrão inatingível, desagradável, cheio de regras e sem nenhuma espontaneidade. Vou ser feliz, vou ser alegre, vou ser leve com meu filho, e ensiná-lo a rir das porradas inevitáveis da vida.
Não sou a melhor mãe que posso ser, sou a mãe que quero ser para o filho que tenho. Sou a mãe que sou. Não posso ser outra mãe sem perder a minha identidade.
Meu filho come doce? Não era o que eu queria, mas sendo eu mãe de um “filho do pai”, achei mais produtivo, a longo prazo, ensiná-lo a comer doce da melhor forma do que proibi-lo.
Meu filho está na creche? Está, porque a mãe o pai que foram a ele reservados moram longe da família, e mamãe, tal qual um peixe longe d’água, fica triste e mal humorada se não faz o que ama fazer. E o Heitor – ele disse – quer a mãe ele, não a mãe ideal. Além disso, mamãe precisa cuidar da saúde, fazer mercado, ir ao banco... Mamãe percebeu que gosto mais de estar pintando com outras crianças do que olhando as prateleiras com sabonetes. Mas isso é ele. Muitos coleguinhas não preferem...
E por aí, vai...
Nunca fará mal a um filho a mãe ser o que deseja ser.
A minha mãe foi mãe integral para mim e não foi para meus irmãos. Sinceramente... Sempre gostei mais dela depois que saiu e foi estudar. Foi quando mais tive orgulho, quando mais a vi sorrir, quando ela mais foi o que era. Antes, ficava muitas vezes triste, e não parecia se encontrar. Eu tinha pouca idade, mas me lembro de coisas que nem ela lembra.
Essa é ela. Mas outras mães – e conheci muitas na rede – são mães integrais e são completas. Encontraram-se. Isso também é bom, se o peito está leve!
Sempre observei, para ser a mãe que queria ser, as mães de pessoas que conhecia e admirava – digo adultos, mesmo. A maioria tinha muitos filhos, muitas nem podiam oferecer tanto tempo e bens a eles. E eles são adultos maravilhosos!
Pensei em trechos de minha própria infância. De quando não pude ir ao curso de inglês antes dos 14 anos, e brincava de traduzir as letras dos Beatles nos discos do meu pai, usando um dicionário... Lembro-me do tempo que perdi pensando no que queria dizer “the movement you need is on your shoulders”, da quantidade de metáforas que imaginei, e da minha alegria quando “descobri” Lewis Caroll em “I am the Walrus” – É Alice, pai, ele está falando de Alice, a morsa, o cabeça de ovo! Eu não viveria esse momento tão criativo se tivesse o curso, simplsmente!
Também foi assim quando meu pai disse não poder pagar um curso que queria muito fazer, reescrevi a minha monografia e ganhei um prêmio com ela – o dinheiro exato para pagar o curso. Todas as minhas grandes vitórias vieram de limitações. Todas as coisas criativas que fiz, construí a partir de um grande NÃO da vida. Quando mudei para a capital, aos 11 anos, quando a condição financeira mudou. Tive que rebolar, me fazer interessante, inventar alternativas, aprender e reaprender. Reinventar-me. Vender o meu peixe. Viver só o “ideal” é se fechar para as possibilidades... Não existe perfeição em nada além do divino – o “pefeito” humano é simplesmente uma bitola que fecha os olhos para o que existe além do que se conhece. E isso nunca é bom.
A mãe que eu quero ser não protege, acalenta. O mundo será cruel ao Heitor, e quero que ele saiba disso, e ainda assim, queira enfrentar o desafio. Que saiba se defender, mas que saiba defender o que É. O que GOSTA. Que não se deixe levar pela necessidade de agradar. Que saiba achar sua turma, que respeite o diferente, que se faça respeitar. Que saiba sorrir, que trate bem às mulheres, que saiba amar e ser amado.
E assim será o meu filho! Mamãe prediz, porque mamãe não é ideal, mamãe é a mãe possível, é a mãe adaptável, que ela quer ser para o filho que ela tem, para o filho que ele quiser ser. Mamãe, assim diz o blog, nasceu tentando descobrir Heitor. Ela muda conforme a canção do Heitor muda. Ela respeita suas necessidades e seu bem estar. Ela se faz respeitar em sua individualidade. Como dizia a Françoise Dolto, crianças não são mini-adultos, são seres prontos. São IGUAIS aos adultos. Ambos precisamos nos respeitar na condição básica humana. Eu conduzo a ele, como em uma deliciosa valsa - eu moldo os meus passos às notas da sua canção, e ambos faremos um belo espetáculo! E quem disse que a vida precisa ser certa, ensaiada? Não, para ser genial, precisa ter toques de espontaneidade, de criatividade, como a dança...
“Navegar é preciso, viver não é preciso” – não usemos bússolas para viver... Vamos como os grãos de pólen, semeando ao vento...

Beijos a todas as mães possíveis!