sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dicas de Sobrevivência, parte I

UFA! Agora é hora de narrar para o problema, as soluções: 1. Bombear o leite não foi fácil. O colostro demorou a descer, desde a UTI, e decidi bombear, já que o Heitor não podia mamar... A bomba do hospital era uma da marca Medela, cujas velocidades são numeradas de 1 a 7. Saí de lá com ferimentos no seio... Só com a bomba que tinha em casa consegui bombear sem ferir! A bomba era da Avent, e o diferencial era uma proteção de silicone com "massageadores" que aliviavam a pressão da sucção no mamilo... Ela é a mais cara, e também são as mamadeiras mais caras (cujo corpo encaixa embaixo da bomba). Mas vale o investimento. A diferença, ao menos pra mim, foi gritante.
A minha tem também um motorzinho, que é diferente do que usei no hospital, pois ele não tem velocidades pré-definidas: faz-se a sucção manualmente até parecer confortável, e o motor segue repetindo o seu movimento de sucção. Ela também vem com as peças da bomba apenas manual, caso não haja eletricidade ou pilhas.


Admito que hoje uso apenas a Manual. Salvo se você tiver que bombear de 3 em 3 horas, como eu tive, o motor é dispensável... Aliás, recomendo a todas usar, antes de tudo, AS MÃOS! Aperte-o, faça meleira, massageie-o... Depois coloque o seio na bomba. Conhecer seu corpo é sempre útil. Hoje, eu só uso o motor quando estou muito cansada e só uso a bomba manual quando tenho pressa. Usar as mãos, para mim, me aproxima do Heitor, me faz conhecer bem os meios de alimentá-lo. Acreditem, apertar os seios esclarece muita coisa...
A bomba manual dói um pouco o pulso... Experimentei a da Chicco em uma loja e me pareceu que ela dói menos, pois a haste que será apertada é mais próxima ao corpo, então quase não se precisa abrir a mão para apertá-la. Acho que a da Nuk também segue o mesmo design.
Mas prevenir nunca é demais, então, ter o motor pode não ser excesso de zelo.
Uma dica boa que me deram para ajudar o leite a descer (além das massagens circulares) foi usar o secador de cabelos. Direcionar ele para os seios, na posição quente, faz o leite descer mais rápido... Comigo funcionou muito bem, e a melhor parte: o som do secador funcionando lembra ao bebê um dos sons do útero, o da nossa corrente sanguínea... Quando ligava o secador, o Heitor ficava imediatamente em silêncio, ouvindo o barulho... Mate dois coelhos com essa cajadada! E ainda seque os cabelos, em seguida... :D

Bom, há também a bomba da Nuk, que também tem massageadores, mas como aparentemente não tem o mesmo design de pétalas, e não cheguei a testá-la, não posso opinar...

As feridas que a primeira bomba deixou no meu mamilo, eu curei com um novo medicamento chamado Mamare: o meu pai recebeu amostras grátis, por uma feliz coincidência, semanas antes do meu parto!



Como boa cobaia, testei o produto nas feridas e constatei o seguinte:
1. O Mamare é excelente para feridas e rachaduras, mas não ajuda quando o problema é "mamilo assado", pois ele adere a pele, e ao retirá-lo, você poderá senti-la ainda mais assada...
2. O ideal é deixá-lo todo o tempo na geladeira, pois o alívio que se sente com ele gelado é algo INDESCRITÍVELLLLL! De preferência, compre dois pares, e alterne-os no seio. Eu numerei os meus, e colocava-os em sequência logo após higienizar o último seio, depois da mamada. Assim, eles me ajudavam inclusive a saber qual era o próximo seio!
3. Funcionava melhor comigo retirando do seio a ser oferecido uma hora antes da mamada, pois quando o leite "vazava", sujava o mamare e diminuia a aderência. Durante essa hora, use conchas, mas é melhor evitar usar diretamente no seio... Eu quase tive uma dermatite fazendo isso!! Uma sugestão é usar com as conchas de silicone o sutiã modelo "MammyBem" (um sutiã estilo amamentação, onde a parte de trás lembra um sutiã comum, só que com um pequeno furo no meio, apenas para o bico). Eu, particularmente, não me adaptei a ele, e inventei uns pares de círculos de algodão duplos, com um furo no meio, devidamente costurados um ao outro. Coloco-os embaixo do sutiã comum, entre a pele e a concha. Não patenteei, podem copiar.



Testei duas marcas de conchas, as da Avent e as da Promillus. Uso ambas, acho que convivem bem... As da Promillus eu uso para o dia, pois ajudam a projetar o mamilo, e facilitam que o Heitor "ache" o centro do seio, principalmente quando ele está "lambuzado" de leite, escorregando no mamilo! De noite, elas escorregam e machucam um pouco, então eu uso as da Avent, com as conchas sem furinhos (Ela vem com as duas versões, e depois de alguns acidentes, passei a achar perigoso dormir de concha com os tais furinhos de ventilação! Pode-se acordar encharcada). Uma boa dica também é por um absorvente descartável dentro de cada concha, para evitar acidentes.

Quanto ao sutiã, aliás, preciso dizer que experimentei TODOS os modelos possíveis... Os que para mim unem beleza e praticidade são os da Liz, com abertura frontal (deixam o peito todo exposto) e uns da Love Secret, em algodão cor de rosa, que aliás tem modelos nadador e tradicional (o nadador foi uma mão na roda com algumas roupas!). O único defeito deles é não deixar o seio exposto, que eu considero muito melhor do que aquele BURACO enorme dos tradicionais...

Na verdade, preciso dizer que abstraí a tempos os tais sutiãs apropriados... Só os uso para sair com o Heitor, quando posso precisar amamentar discretamente na rua. De resto, prefiro usar os sutiãs reforçados para gestantes, e simplesmente RETIRÁ-LOS para amamentar! Não faz sujeira (deixo uma fraldinha logo abaixo), e o Heitor se esbalda.
É isso, por enquanto são essas as dicas que a minha primeira VIA CRUCIS da amamentação inicial deixou! A primeira, porque a "crise dos três meses" de Heitor pretende deixar outras tantas... Em breve!

Serviço de Utilidade Pública: Herpes Gestacional


Abdomen pós-parto: dia 1

SIM, eu fui uma em 50.000, agraciada com uma Herpes Gestacional, e de modo mais raro ainda, durante o puepério...!
Decidi começar a contar minha "nova descoberta do Heitor" narrando o nosso primeiro desafio pós-hospital. Dias antes do parto, surgiram pequenas estrias na base da barriga. Como coçava muito na região, simplesmente atribuí a elas a coceira e hidratei bastante. Depois do parto, a região começou a criar essa crosta. Essa foto e a que segue foram tiradas no primeiro dia em que desconfiei que as marcas no abdomen e aquelas pequenas pintas nos braços e nas costas podiam estar relacionadas:



Costas: dia 1.


No dia seguinte, a situação era essa:


Braços, dia 2.

Liguei imediatamente para o meu pai, dermatologista. Como tenho recorrentes "brotoejas" em razão do calor excessivo, tomei por minha conta o anti-histamínico desde o dia 2 (erradíssimo, eu sei!!), mas nada acontecia. Ao ligar, ele me pediu que tirasse as fotos. Em dois dias ele viria para a capital, ver pessoalmente.

Não cheguei a mandar essas fotos, mas em dois dias ele viu "in loco" o quadro, duas vezes pior do que a foto que segue:


Braços, dia 3.

Ele me encaminhou a uma colega, e ela referendou o que ele imaginava. A doença chama Herpes Gestacional, assim descrita no Manual Merck:

"HERPES GESTACIONAL
O herpes gestacional é uma erupção intensamente pruriginosa com vesículas cheias de líquido que ocorre durante a gravidez. O termo herpes é enganoso, pois a erupção não é causada pelo herpesvírus ou por qualquer outro vírus.
Acredita-se que o herpes gestacional seja causado por anticorpos anormais que reagem contra os próprios tecidos do organismo (reação auto-imune). Essa erupção incomum pode ocorrer em qualquer momento após a 12a semana de gestação ou imediatamente após o parto.
A erupção pruriginosa geralmente é acompanhada por vesículas e bolhas irregulares cheias de líquido. Freqüentemente, o herpes gestacional começa no abdômen e, a seguir, dissemina-se. Algumas vezes, a erupção abrange uma área em forma de anel, com vesículas e bolhas em torno da borda externa. Geralmente, ela piora logo após o parto e desaparece em semanas ou meses. Ela freqüentemente reaparece nas gestações subseqüentes ou com o uso de contraceptivos orais.
O concepto pode nascer com uma erupção semelhante, a qual geralmente desaparece espontaneamente em algumas semanas. Para confirmar o diagnóstico, o médico remove um pequeno fragmento da pele afetada e envia o material ao laboratório para a detecção da presença de anticorpos.
O tratamento visa aliviar o prurido intenso e evitar a formação de novas bolhas. Para a erupção leve, a aplicação freqüente de um creme contendo corticosteróides diretamente sobre a pele geralmente ajuda. Para as erupções mais disseminadas, são prescritos corticosteróides orais. Parece que o uso de corticosteróides no final da gestação é prejudicial ao feto. Quando o prurido piora ou a erupção dissemina-se após o parto, uma dose mais elevada de corticosteróide pode ser necessária".


Outro site: "Herpes Gestacional, também chamado de Penfigóide Gestacional é uma dermatose auto-imune, rara (1/50.000 - parturientes), polimorfa, intensamente pruriginosa, associada à gravidez ao pós-parto imediato e ao cariocarcinoma".

Uma em cinquenta mil...! Aparentemente tive sorte, pois em mim ela foi diagnosticada e tratada muito rápido: só imagino o que costumam sofrer as outras mães, pois as semanas em que "curtia" minhas bolhas foram as mais terríveis imagináveis...

Daí a minha vontade de escrever ALGO sobre essa experiência, antes de falar sobre qualquer alegria ou tristeza de ser mãe... Até ser informada pelo meu pai, nunca tinha ouvido falar em Herpes Gestacional. Quando os caroços surgiram, consultei toda a VASTA literatura de gestante, tantos e tantos livros que comprei e li, e NENHUM deles se referia a ela. Um deles, inclusive, falava em Alergia à Ocitocina, que foi o que achei que tinha...

Por semanas a minha pele ardia. Por semanas, as bolhas coçavam por todo corpo... Por semanas, não consegui segurar meu filho nos braços sem chorar de dor...! Saí com ele para o Ortopediatra e o sol castigava as feridas, e eu chorava escondido, até não aguentar mais. Amamentar era um suplício, e aguentar deixá-lo se aninhar feliz, mamando, nos braços ardidos, enquanto meu instinto de sobrevivência me mandava atirar ele longe, foi uma prova de fogo.

No início do tratamento com corticóides, eu dormia praticamente sem roupa, no ar condicionado, com os braços abertos e choramingando. Olhava compulsivamente para as feridas, esperando que elas secassem. Bombeava o leite de 3 em 3 horas, e jogava todo ele fora, com muita, muita tristeza. Se o puepério já é difícil, imaginem assim...

Enfim, as feridas secam, todas elas. Daí em diante, nenhuma feridinha no seio me faria deixar de amamentar, depois de tudo que eu e o Heitor passamos para que ele usufruisse daquele leite. Foi duro. Heitor e mãe aprenderam cedo demais o que significa amar, de verdade. O amor só surge realmente quando compartilhamos simultaneamente dores e delícias... As marcas de nossas brigas (as dele, na UTI, comigo ao lado e as minhas, ferida, com ele nos braços) mensuram a dimensão do laço que nos une.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Descobrindo a mãe do Heitor...

O que fazer com um blog para a gestação depois que ela acaba?
Acolhendo à sugestão de uma amiga, vou continuar descobrindo Heitor... Não mais um bebê crescendo em mim, mas um ser autônomo, que, simultaneamente a mim, descobre a "mãe do Heitor"...
A maternidade é INTRIGANTE!! Entrei na sala de cirurgia tremendo de frio e de medo, com cesárea marcada por pura covardia de sentir dor... Todos ali me perguntavam tudo ao mesmo tempo, e todas as perguntas sempre me pareciam estranhas demais: "-Vc é casada de verdade?" E eu só imaginando COMO ISSO FARIA DIFERENÇA NA MINHA CIRURGIA! (só esclarecendo, essa informação deve constar na Declaração de Nascido Vivo...)
A cirurgia começa e eu puxando por segundo o braço do anestesista (-Eu tou sentindo que estão cortando... Estão cortando, não é? Era pra sentir isso mesmo?) até que ele me disse, com toooda paciência: "VC VAI SENTIR TUDO, MENOS DOR"! Aaaaaaah, eu não quero sentir tudo, meu Deus, eles vão tirar o Heitor da minha barriga e eu vou sentir isso acontecendo???
Nooossa, que sensação BIZARRA! Quando senti que o tiravam, só consegui dizer: "-Não tira, deixa ele aí!" (era só pra pensar, mas acabei falando em voz alta...).
Olha, não sei descrever o que significa ficar com a barriga, antes ocupada, oca... Me senti vazia! Olhei muito para a barriga murcha, sempre com uma tristeza imensa: por 39 semanas ELA foi meu filho, meu bebê, minha companhia... E agora, tiravam ela de mim...
Daí ouço a Dra. Lu: "Heitor é lindo, é enorme!" - E desando a CHORAR! Ih, não sei explicar até hoje o porquê do pranto. Não era emoção, era um TRANSBORDAR. Minha vida dava PAUSE e a dele, um FW: uma vida começa, a vida do guri que acordou tantas e tantas vezes comigo, espriguiçando na minha barriga (e com a bunda arrebitada sob meu umbigo), que "corria" para meu estômago e costelas quando eu colocava gelo na base da barriga, e que um dia ficou a noite inteira quietinho depois que chorei de desespero e sono... Minha companhia compulsória por 9 meses e meio, que esteve tão grudadinho em mim todo o tempo, agora fora de mim. Doeu na alma, e chorei de saudades antecipadas...
Pedi enlouquecida para vê-lo: "coloca ele aqui no meu lado". AH, ACREDITEM: ele me fez uma cara de mágoa profunda nesse momento, que instintivamente respondi ao vê-lo pela primeira vez: "Filho, a culpa não foi minha, eu disse pra deixarem você lá dentro!" Quando contamos isso, virei motivo de piada, mas olhem bem qual foi a tal "primeira careta" (eu fotografei ela depois):


FICARAM COM MEDO? Eu também!
Pois então, desde lá temos vivido, eu e Heitor, uma série de sentimentos estranhamente instintivos... A sensação de vazio foi embora, exatamente no dia em que fui até a UTI Neo e, ao vê-lo com desconforto respiratório, pus a mão sobre seu peito, respirando com ele, e a respiração dele normalizou por instantes, entrando no ritmo da minha... Somos ainda uma dupla, e juntos vamos descobrindo como viver felizes, como crescer e ser hoje mais do que fomos ontem. E, afinal, nos descobrimos um descobridor do outro, exploradores da intrigante e mágica condição de MÃE e FILHO!